deste lado da ponte, 1

Eu não vim morar na Zona Oeste por querer. Foi mais por precisar. E, naquela época, minha maior urgência era parar de me sentir desgraçadamente triste. Eu precisava me mudar para tentar não me sentir insuficiente como vinha me sentindo já havia meses. E a Zona Oeste me recebeu nesse projeto. Os problemas não se resolveram, embora os motivos tenham mudado. Segui triste. Descobri novas formas de me sentir insuficiente. Mas a mudança era temporária – ainda que mais longa do que eu gostaria – e tinha cara de redução de danos e não de solução definitiva.

Agora, tá chegando a hora de eu ir embora de vez. E, por mais difícil que tenha sido o percurso, decidi registrar as paisagens que foram construídas nesse período. Alguns lugares que eu já conhecia mas se ressignificaram, outros que escolhi visitar abrindo um mapa no celular. Em tardes pacatas de finais de semana de tédio, éramos eu, a câmera e minha bicicleta.

Pensando nessa série de fotografias, eu sinto que me tornei uma turista. E meus pontos de interesse eram simplesmente o que havia deste lado da ponte. Eu frequento o Estádio do Morumbi desde os 16 anos de idade, mas eu não sabia bem onde ele estava, qual seu entorno, o ermo dos dias sem jogo. Nesse dia das fotos, eu estava em casa, nervosa com a semifinal do Campeonato Paulista de 2022.

Para diminuir o nervosismo, peguei a bicicleta e fui ver a movimentação da torcida. Cheguei na mesma hora que o ônibus com os jogadores, assisti às massas de torcedores buscando seus portões. Comi um lanche de pernil em uma das vans estacionadas na avenida e voltei para casa a tempo de ver o apito inicial do jogo. Por fim, ganhamos.

Câmera: Praktica MTL3 | Filme: Solaris 100 (vencido em 2008) | Revelação: @kodakmafia


Comments

4 respostas para “deste lado da ponte, 1”

  1. Avatar de Giovana
    Giovana

    O lanche de pernil… Meu deus, que saudades.

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