deste lado da ponte, último

Vista do lago do parque Chácara do Jockey

Demorou para eu entender que era apenas uma fase. Parecia um erro, uma consequência infeliz de problemas que não se resolviam, apenas se repetiam. Eu fui morar longe, num lugar inesperado. Não conhecia ninguém na vizinhança, e, por mais habituada à solidão que eu seja, parece que tudo ali foi exagerado. Durou mais tempo do que eu imaginava, e eu passei a ter menos disposição de cruzar a cidade para viver os espaços de antes, encontrar as pessoas que me amparavam. Habitei silêncios prolongados.

Chegou um momento em que eu não falava mais disso com quase ninguém. Eu mesma tinha cansado de verbalizar o que eu achava ruim. Até parei de dizer que sentia saudades, talvez como forma de deixar de sentir. As palavras criam mundos, mas não estou certa de que a supressão delas dê conta de resolver as questões desses mundos. De qualquer modo, fui me calando cada vez mais e às vezes tenho medo de carregar desse período uma dificuldade em contar histórias.

Para que eu soubesse que era apenas uma fase era necessário que ela terminasse. Mas ela só passaria no seu próprio tempo. Eu não tinha controle sobre ele. Sobre quase nada eu tinha controle. Fui triste. Mas ainda assim desejei não ser. Desejei conhecer o que era novo, criar imagens das quais eu pudesse gostar um dia. Desejei ver a felicidade dos outros, uma felicidade cotidiana, de um dia qualquer de sol em um parque. E, quem sabe?, assim pudesse eu mesma parecer feliz a um observador ocasional. Esse era o único controle que eu podia ter; sobre o meu tempo, sobre as imagens que eu levaria dessa época, do percurso das minhas pernas e da minha bicicleta aos finais de semana.

Acima, um passeio no Parque Chácara do Jockey. Abaixo, registros do Instituto Butantan e do Parque Alfredo Volpi.

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Câmera: Canon EOS Rebel GII
Filme: Solaris 100
Revelação@kodakmafia


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