Autor: Babi Carneiro

  • a má escrita

    Não sou uma pessoa de metas anuais. E, nas passagens de ano de 2021 e 2022, resumi qualquer desejo complexo a um mero “sobreviver”. Que fosse sobreviver para tomar uma esperada vacina, ou sobreviver para estar na derrocada do fascismo. Sobreviver à doença e à tristeza, sobreviver ao que fugia completamente do meu controle. Daí,…

  • o ano da música na minha vida

    Era 2021. Fui para a Avenida Paulista, com a máscara tapando meu nariz e minha boca. Já era fim de tarde, no outono e começava a anoitecer cedo. Não estava com vontade de conversar com ninguém, e pensei que a máscara seria perfeita em impedir que possíveis conhecidos que estivessem na mesma região naquele dia…

  • breve ensaio sobre autonomia

    Eu não me tornei uma pessoa independente por querer. Eu me tornei uma pessoa independente por precisar. E quanto mais velha eu fico, mais percebo os problemas dessa estratégia de sobrevivência na minha vida. A começar pelo sofrimento excessivo que eu sinto quando preciso pedir algo. Venho de uma casa de mulheres independentes; também, sem…

  • o que cabe num território

    O que é um território? Eu me mudei para um apartamento de 30 metros quadrados. Alguém poderia dizer que esse é meu território. Mas ele é muito maior que isso. A água que me serve e me sacia vem de um reservatório, percorre quilômetros de canos até chegar nas torneiras de casa. O espaço dessa…

  • os subsolos e os silêncios

    Da viagem a Brasília, em 2018, eu me lembro de algumas coisas. Mas poucas lembranças me perseguem como o passeio pelas galerias do Congresso Nacional. À época, fiz piada. Disse que não poderia me candidatar para cargos legislativos, visto que o excesso de carpetes no prédio não deixaria minha rinite alérgica em paz. Fora isso…

  • deste lado da ponte, último

    Demorou para eu entender que era apenas uma fase. Parecia um erro, uma consequência infeliz de problemas que não se resolviam, apenas se repetiam. Eu fui morar longe, num lugar inesperado. Não conhecia ninguém na vizinhança, e, por mais habituada à solidão que eu seja, parece que tudo ali foi exagerado. Durou mais tempo do…

  • deste lado da ponte, 3

    Solidão sempre foi uma palavra comum no meu vocabulário particular. Não me assusta. Eu me lembro de sair de casa para resolver coisas de bicicleta pelo bairro já aos onze anos de idade e, às vezes, para não resolver absolutamente nada. Só ficar rodeando a praça da igreja até cansar ou começar a escurecer. Eu…

  • deste lado da ponte, 2

    Um parque que eu não sabia que existia e um caminho que me é muito familiar. Sair. Ver o mundo. Buscar o desconhecido e relembrar o conhecido. Somar a isso o uso de uma câmera que eu nunca tinha usado antes. Presente de uma amiga que morreu. Esqueci de comprar bateria, descobri já na rua…

  • deste lado da ponte, 1

    Eu não vim morar na Zona Oeste por querer. Foi mais por precisar. E, naquela época, minha maior urgência era parar de me sentir desgraçadamente triste. Eu precisava me mudar para tentar não me sentir insuficiente como vinha me sentindo já havia meses. E a Zona Oeste me recebeu nesse projeto. Os problemas não se…