Toda foto é resultado de escolhas do fotógrafo. O assunto e o enquadramento são as escolhas básicas, que serão completadas por outras escolhas, como da abertura da lente, o balanço do branco, o tempo de exposição. Muitas vezes as escolhas não são tão pensadas quanto podem parecer, muitas fotos chegam a seu resultado final como acidente de percurso (o que pode frustrar e maravilhar). Como diz Boris Kossoy em Fotografia e História, toda fotografia é uma arte plástica que vem não só permeada do senso estético e do gosto particular do fotógrafo, como também possui um conteúdo singular do assunto captado nas coordenadas “TEMPO/ESPAÇO”.
Passeando pela feira de antigüidades (trema é antigüidade também) da Benedito Calixto, encontramos algumas fotografias à venda. Fotografias antigas, em preto e branco, com as bordas delicadamente picotadas. Pessoas em suas salas, televisões com tela redonda, um moço em frente a uma placa escrita “Texas”. Perguntamo-nos por que alguém venderia aquilo.
Cada foto é uma escolha do fotógrafo. Mas não só. Cada foto guardada é uma escolha de substrato para as memórias. Cogitamos muitas ficções que explicassem o porquê do comércio de fotografias antigas, pessoas que se desfazem de jogos de xícaras e de álbuns fotográficos, pessoas cujo passado já não interessa – ou frações daquele passado, pessoas para quem aquelas fotos não dizem nada. Os rostos das fotos já não são identificáveis, não pela qualidade delas, que se mantém com o mesmo verniz por décadas, mas porque o vínculo com aquela pessoa que posava sorridente na década de 1950 já não existe.
O fotógrafo seleciona o momento. As pessoas selecionam as memórias.
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