está morto, sossegado #8

Eu tenho essa paixão pelo mar, por passar horas olhando para ele, tentando desvendar seus misteriosos movimentos regidos pelos astros. Dentro dele, eu o desafio, apesar da minha notável fraqueza. O mar me engole de sopetão e rodo dentro da onda. Me acostumei com essa violência e me concentro em segurar a respiração enquanto penso “uma hora isso acaba”. Foram assim aqueles oito meses. E o atordoamento e o receio de que não fosse ainda a hora quando tudo parecia terminado perduraram.

Eu havia suplicado para que a beleza se mantivesse. Para que o amor pudesse ficar ali, congelado, em um espaço-tempo de eternidade. Mas não conseguimos. Tivemos que à força destrui-lo. Meus avós nunca poderiam se separar, quando os dois viviam. E, assim, precisaram ressignificar o que era amor milhares de vezes, suponho _ apenas suponho porque nunca houve, nessa casa, visita às nossas intimidades. Nós dois pudemos e escolhemos vivenciar o fim. E a única mudança de significado era, no fundo, uma mudança de vocábulo. Não parece verdadeiro dizer que a gente só conhece o valor quando perde. É, provavelmente, o inverso: nós amamos por completo porque sabemos que acaba. A beleza me dói em um canto imerso do ser. Isso eu já sabia antes. Agora só me pergunto se o que me dói nesse mesmo lugar é, tão somente por isso, belo.


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