Depois de dez anos que comecei a ler Harry Potter e a Pedra Filosofal, assisti ao último filme da série. Ter começado o primeiro livro aos 11 anos e terminado o último aos 17 me fez ter a impressão de que minha adolescência foi muito influenciada pelo menino que sobreviveu. Passei por diferentes níveis de fanatismo. Fui de comprar revistas, livros, objetos em geral só pela menção a Harry Potter. Não me arrependo, mas hoje me vejo em outro patamar. Ainda hoje gosto de ver, de lembrar, de pensar sobre o assunto; de um modo diferente do que fiz ao longo dos anos. Por isso, resolvi fazer esse post para fazer um balanço do que a série representa para mim. É um post gigante, cheio de spoilers, mas com uma pretensão de ser meio definitivo.Carrego a hipótese de que a história escrita por J. K. Rowling é cheia de metáforas com a situação da Segunda Guerra Mundial. E acho que ela faz isso de uma maneira tão bem feita que não é uma coisa óbvia, nem maniqueísta. Para tentar comprovar minha hipótese, fui atrás de algumas informações.
Em Harry Potter e a Câmara Secreta, a narrativa sai do âmbito restrito da vida do personagem principal e se envereda por caminhos que serão retomados em outros livros da série. A possível pureza ou impureza do sangue dos bruxos aparece aí e, para mim, é o elemento fatídico que me fez pensar em Harry Potter confrontando as noções de raça tão caras ao Estado nazista. Claro que eu não pensava nisso aos 12 anos de idade. Naquela época a única referência que eu tinha latente sobre a Guerra havia sido pesadelos depois de ver A vida é bela.
O primeiro Salazar que conheci foi Salazar Sonserina (Salazar Slytherin, no original em inglês). Só muitos anos mais tarde descobri que o presidente de Portugal que era aliado aos nazistas tinha esse nome. Poderia ser uma mera coincidência. Não fosse o fato de a autora da série ter sido casada com um português e morado em Portugal.
Dia desses, descobri que John Amery foi o único britânico condenado por alta traição durante a Segunda Guerra Mundial. Não sei se foi de propósito que o ator que interpreta Bartô Crouch Jr (David Tennant) nos filmes de Harry Potter tem algumas semelhanças fisionômicas a esse homem. Suas histórias na realidade e na ficção são muito parecidas. John Amery era filho de John Leopold Amery que se tornou ministro britânico durante o governo de Winston Churchill. Assim como Amery, Bartô Crouch herda de seu pai o nome, e esse ocupa um cargo importante no Ministério da Magia. Leopold Amery colocou seu cargo à disposição do primeiro-ministro britânico, mas Churchill alegou que um pai não deve pagar pelos erros do filho. John Amery foi condenado à morte por enforcamento em 1945 por traição por sua colaboração com os nazistas. O personagem fictício Bartô Crouch Jr leva um beijo de um dementador, coisa que é narrada como sendo uma condenação pior do que a morte.
A referência aqui eu acho mais facilmente identificada pelo visual. E acho que é o caso mais expressivo do não-maniqueísmo. Por ser britânica, a autora poderia ter construído Cornélio Fudge como uma exaltação a Churchill, mas não é isso o que acontece. Ambos governam em momentos conturbados em seus mundos e contextos. Churchill se torna quase um herói de guerra com a vitória dos Aliados nos confrontos contra o Eixo. Mas, claro, como todo personagem histórico é buscado e reconstruído através de muitas biografias. Cornélio Fudge não é menos controverso.
A construção dos personagens é complexa e o leitor (mais do que o espectador dos filmes) nunca tem de primeira mão a benevolência ou a maldade. Draco Malfoy, que poderia ser considerado arqui-inimigo de Harry, mostra-se confuso e temeroso em suas investidas como Comensal da Morte. Severo Snape é o ápice da complexidade de um personagem. Acho que, no fundo, só chorei tudo o que chorei nas duas partes de Harry Potter e as Relíquias da Morte por causa das personagens, da identificação que construí com elas. Tem umas coisas meio estranhas na narrativa e o epílogo no filme é como no livro, uma fanfiction ruim, mas que cumpre sua função: a de falar “é, galera, ‘cabou mesmo”. Deve ser pelo apego às personagens que chorei mais do que o razoável ao ver o vídeo da premiére do filme, quando Emma Watson agradece à autora por ter dado à Hermione voz e tê-la feito tão forte.
O Scott C. costuma desenhar cenas famosas de filmes e fez isso com Harry Potter. O resultado é esse Harryzim no colo do meio-gigante Hagrid e está no great showdowns.
As capas tradicionais dos livros são cheias de informação. Minha diversão depois de ler cada um era fazer uma revisão mental a partir das ilustrações na capa. M. S. Corley propõe uma versão diferente, com o destaque de só uma passagem de cada livro. A idéia dela era imaginar e pôr em prática o design da Editora Penguin para a composição dessas capas alternativas.
Para ver maior e no link original:
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É, mal-feito feito. O último a sair apaga a luz.
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