• um não-outro país

    Chegou um brasileiro no albergue em que estávamos em Buenos Aires e começou a conversar com a gente, maravilhado como ali parecia a Europa. A Europa que ele tanto gostava, e que lhe forneceu um passaporte europeu por sua linhagem portuguesa. Mas depois de quatro meses na Argentina, a única coisa que não aguentávamos mais ouvir era que ali é a Europa da América do Sul. Não é. Nunca foi. Nem será.
    Primeiro de tudo, por uma questão racional. Um país na América do Sul não pode ser mera transposição de um outro continente. É quase tão injusto com a Argentina dizer isso como é com os tantos países europeus que não são simples reprodução do modelo arquitetônico da França moderna. Evidentemente, esse discurso de uma Europa incrustada na América agrada a muitos, mas, além de não ser inteligente, é bastante preconceituoso. Serviu a muitos governantes e vende bastante para os turistas.Na viagem pelo noroeste da Argentina, as fronteiras se dissolviam. Estávamos próximos de territórios de povos originários que muito viam de si mesmos em outros povos de regiões como Bolívia, Peru e norte do Chile. Era possível pensar que estávamos em outro país e não mais naquela Argentina, de população embranquecida ao longo dos últimos dois séculos. Mas foi no centro cultural de defesa da cultura originária em Iruya, em que, olhando para uma nota de cem pesos argentinos com a imagem de Julio Argentino Roca, me dei conta de que não se tratava de um outro país.

    Roca foi duas vezes presidente da nação e é representado na nota de maior valor como o comandante da dita Conquista do Deserto. Que o nome “deserto” não lhes engane: a região era povoada de povos originários exterminados em meados do século XIX. Eu estava ali, em um deserto que tanto se tentou – e se tenta – conquistar, conversando com membros de uma comunidade apagada da história oficial, entendendo que ali não é mais ou menos Argentina do que todo o resto. Que Argentina é só mais uma das tantas construções humanas e que possivelmente a ideia de um país europeu foi cimentada com o apagamento de indígenas e a tomada de grande parte de seus territórios. Que talvez seja essa a parte de uma Europa colonizadora que coube ao país.

    sed

    tilcara

    the lady and the goat

    de las simples cosas

    un buen día

    viva

    canciones

    feria

    mirada

    exodo

    en el mercado

    (É saudável – se não justo e necessário – expandir essas reflexões pro caso do Brasil e seus conflitos entre brancos e indígenas ao longo da nossa História)
  • el amor en los tiempos del cólera

    como se llama