primeiras considerações

dos a la costanera
Divido casa com mais de trinta pessoas. Áreas comuns com todos, banheiros com outras meninas, geladeira com mais quatro e quarto com mais duas. Tudo aqui é intenso e passageiro. Toda dor e toda alegria aparecem com toda a força e se esvaem em um turbilhão de outras sensações. A única coisa que demora a acabar é o arroz que cozinhei há uma semana.

Ainda não me acostumei ao tempo. Não há hora alguma de diferença com o Brasil, mas estou em um fuso horário particular. Da cidade cinzenta que escurecia antes das 18h, mudei para um lugar ao sul, onde o sol começa a esboçar sua ida às 19h. Por volta do meio-dia, a cidade fecha. Não há bancos funcionando, tampouco repartições públicas. As lojas reabrem umas 16h e permanecem assim até umas 21h.

repercusión
Minha percepção de tempo na Argentina é sempre outra, percebo. Há prédios antigos orgulhosamente conservados. Meninos na rua, chutam objetos, improvisam um futebol e se chamam de Maradona (só vi o Messi uma vez: anunciando vitaminas de emagrecimento na parte de trás de um ônibus). Os peronistas estão no poder. Foi deles a primeira repercussão que tive da morte de Hugo Chávez aqui, com a pichação na esquina de casa. No cartaz, a frase “Hasta siempre comandante!”, com Néstor Kirchner acenando logo atrás. As palavras seguem na parede; os cartazes foram arrancados.

Poucos dias depois, estávamos passeando quando um carro rodava a praça do centro histórico buzinando. Pensei em casamento, mas nos avisaram que o papa era argentino. Pouco depois, as igrejas começaram a tocar seus sinos incessantemente e lembrei que moro do lado de um convento. As freiras, entretanto, celebraram em mais silêncio. Na televisão, a manchete “Che, el papa es argentino”, no anúncio de uma festa um trocadilho com o Sumo Pontífice e a palavra “batata” em espanhol, e, em casa, uruguaia e chilena comentando sobre o efeito no ego argentino.

héroe

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