o corpo do homem me espera

As esteiras me fazem caminhar sem esforço
e as estrelas me colocam pequena no espaço.
O corpo é o território percorrido antes das
lágrimas não choradas no velho aeroporto.
Ensaio chorar em um canto novo do saguão
mas tristeza não explica a forçada despedida.
Sei que o corpo do homem me espera.

Olho para o lado e, de novo, tudo é novo.
Me pergunto por que vou embora outra vez
e ninguém me responde em parte alguma.
Observando o anel que rodopia no chão,
suprimo meu ar por alguns momentos e
me dou conta de tudo que está suspenso.
Se longe estou e se quero estar – e quero,
lembro que o corpo do homem me espera.

No escuro silêncio do primeiro barco,
penso que dói o amor e dói não amar,
porque a dor não está na coisa amada
ou na ausência de objeto a ser adorado.
A dor está em mim como fluído carnal
e se me enfermo quando amo – e me enfermo,
custam quilômetros para sanar-me.
Ali, o corpo do homem me espera.

A casa vazia, recém desocupada,
e o estranho silêncio na cidade cheia
trazem a memória de danças perfeitas
quando nada era mais que potência.
As paredes estão prontas para ruir
e o chão trepida longamente.
Escapo atordoada pela janela
porque o corpo do homem me espera.

Sento-me na rodoviária de província
e desconhecidos riem comigo,
me convidam para uma linda peña,
e se mexem em franco êxtase.
Penso em ir e esquecer de avisar
mas estou presa por meu próprio peso.
Movimento os pés mas me finco,
hoje o corpo do homem me espera.

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