a morte do gato

um pequeno corpo estirado no canteiro
penso em como dorme calmo o gato
até que vejo que dorme um sono eterno
(há dor em suas feições, um susto talvez)
dou poucos passos _ vinte-e-sete _
encontro um anúncio no vidro da loja
e ele evoca a perda de um gato
siamês, como aquele exposto ao lado,
e acho que se trata do mesmo
todos dia questiono se deveria contar
sobre o pouco que sei do bicho
ou se devo deixar para lá porque afinal
não sei se os dois são o mesmo
e penso que curioso que a própria raça
seja chamada de siamesa.
dou mais alguns passos _ doze_
e um cheiro de cocô de cães me enjoa
só uns poucos passos _ cinco_
e me pergunto quantos ratos passeiam ali
a essa altura ainda não decidi sobre
contar a respeito do gato morto
(teria o corpo sido recolhido com o lixo?)

mas eu esqueço tudo quando viro a esquina
e lembro da minha própria vida
enquanto desvio da minha própria morte.

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