As pessoas chamam de “magrela”, mas tem quem dê nomes próprios para a bicicleta ou comente sobre ela com o simpático apelido de “bike”. Li por aí, para escrever esse texto, que a bicicleta é o meio de transporte mais usado no mundo (não temos dados sobre os elevadores, que também são meios de transporte) e tem até ditado que diz que certas coisas são como andar de bicicleta: a gente nunca esquece. Elas parecem estar em evidência nos últimos tempos, mas a história é antiga e os modelos mais parecidos com as que nós conhecemos vem do século XIX. Só que os modos de usar bicicletas podem ser muito diferentes e, por isso, resolvemos investigar se elas estão aqui para serem companheiras no esporte, no passeio de fim-de-semana ou no dia-a-dia como transporte pessoal. Para esta matéria, entrevistamos algumas pessoas sobre o uso que fazem das bicicletas no cotidiano.
Ciclismo
As bicicletas estão presentes como instrumento essencial em diversas modalidades esportivas. Podem variar os modelos, como as usadas nas provas de paraciclismo ou de bicicross, e os locais onde são usadas, como o MTB (ou Mountain bike) que acontece em montanhas, e o ciclismo em pista, presente desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas, em 1896. Em esportes como o triatlo, as bicicletas podem não ser personagens principais, dividindo o protagonismo com a corrida e a natação, mas estão ali completando o circuito! A Bruna Oliveira, comerciante que mora em São Paulo, aprendeu a andar de bicicleta ainda criança, mas depois do trauma de um acidente, em que se viu presa com a bike debaixo de uma caminhonete, parou de andar por um tempo. Em 2012, uma amiga com quem praticava artes marciais não podia mais lutar e se interessou pelo pedal; para incentivar a amiga, Bruna conta que começou a pedalar também e acabou se apaixonando. Ela nunca competiu, só participou de provas de Audax, que são provas de longa distância que surgiram na França no fim do século XIX e chegaram no Brasil na década passada. É interessante pensar que esses eventos esportivos criam desafios pessoais onde mais importante do que derrotar um adversário é a pessoa dar conta de ultrapassar suas próprias barreiras. Vale lembrar que é sempre prudente ter preparação física adequada e não pegar muito pesado consigo. As bicicletas podem ser ótimas companheiras, mas também forçam bastante nossos joelhos; elas devem ser acompanhadas de elementos de segurança e aquelas regras básicas de sempre: estar bem hidratado e protegido de chuva e sol intenso. Quando não está percorrendo 200 km de distância com equipes por aí, Bruna usa a bicicleta para ir de casa para o trabalho. O que é uma atividade rotineira para outras pessoas também…
No rolê
Grace Oda, que é designer, usa sua bicicleta para passear mas também para se locomover de um ponto a outro na cidade. Ela nunca competiu em modalidades de ciclismo, mas se lembra de quando aprendeu a andar de bicicleta, ainda criança, com aqueles modelos com rodinhas, e, com a ajuda da mãe, pôde avançar para as outras etapas. Para Grace, o grande problema é que as bicicletas muitas vezes são vistas como brinquedos e não como meio-de-transporte. Assim, nem as pessoas se preparam muito para usá-las como um veículo nas ruas e avenidas, nem as administrações públicas dão muita bola para cuidar dos espaços que elas deveriam ocupar nas vias das cidade. Mas isso tem mudado ao longo do tempo. A população tem que entender que os ciclistas são parte dela, e que ninguém precisa competir. O ideal seria que todos convivessem de forma segura (pedestres, ciclistas, motoristas de carros, ônibus, motociclistas). A Grace ainda dá um toque que talvez muita gente não perceba: a bike não precisa ser usada para cruzar a cidade inteira (imagina um trajeto da zona oeste para a zona leste de São Paulo ou da zona norte para a zona sul do Rio de Janeiro?), pode ser apenas uma alternativa para percursos de até 10 quilômetros, que podem ser completados com outros meios-de-transporte, como ônibus e metrô.
De A até B
As bicicletas tem claros benefícios sobre outros transportes individuais: são mais baratas, não pagam IPVA (imposto que pagam os veículos automotores), não consomem combustível. Além disso, não é preciso ser entendido para manjar o funcionamento da corrente, do freio, do câmbio (em bicicletas com marcha): é tudo mecânico. Em São Paulo, em dois endereços diferentes, tem uma oficina chamada Mão na roda que ajuda as pessoas a entenderem melhor o meio de transporte que possuem, o que dá mais autonomia e segurança para o ciclista, que consegue perceber se algo na bicicleta está esquisito.
Ok, e se a pessoa tem a bicicleta, tem a vontade, mas ainda não conseguiu coragem para sair do ponto A e chegar até um ponto B na própria cidade? Alguém já pensou nessa situação. Nos últimos três anos, o Bike Anjo já atendeu mais de 5.000 pessoas. Trata-se de uma atividade voluntária, pensada durante uma bicicletada em 2010, que oferece orientação gratuita a iniciantes que querem encarar o trânsito usando suas bicicletas. Perguntei para eles, por e-mail, como se organizam no Brasil, e soube que para se tornar bike anjo não precisa de contato pessoal, apenas concordar com a proposta de ajuda voluntária. De acordo com eles, existem bike anjos em mais de 260 cidades do Brasil. Para pedir ajuda, é só entrar no site e clicar em “Peça um Bike Anjo”.
Já tem uma bicicleta, coragem, disposição e sabe as regras de trânsito para andar por aí? O passo seguinte é esperar que as pressões que os ciclistas fazem para melhorias de condições de vias sejam atendidas, que instituições privadas e públicas incentivem a prática criando lugares para as pessoas terem onde colocar suas bicicletas e que o restante da população entenda que o que pedem os ciclistas não é uma luta de um contra os outros, mas uma busca por convivência, alternativas e segurança para todo mundo!
Depois de todas essas conversas sobre bicicletas, a única conclusão a que chegamos é que elas estão aí para serem boas companheiras em muitas ocasiões: seja para praticar esportes, para dar um passeio maneiro ou para chegar mais rápido em algum lugar.