Esse texto é sobre um assunto bastante importante pros tempos atuais, principalmente agora que as eleições estão bem perto. Mas começa com uma espécie de viagem no tempo.
Quando aprendemos a palavra “democracia”, ouvimos que ela vem do grego e quer dizer “governo do povo”. Que Atenas era cidade-Estado e que lá os cidadãos governavam. Só temos um pequeno problema nessa história: os cidadãos eram apenas os atenienses homens livres. Ficavam de fora das decisões na Acrópole os escravos, os estrangeiros e as mulheres. Mas a ideia de que as mulheres não deviam participar da vida pública (e sim cuidar apenas e exclusivamente dos assuntos domésticos) não nasceu na Grécia antiga nem se manteve por lá.
No Brasil e no mundo
Começa no século XIX o movimento sufragista que lutava pelo direito de mulheres votarem e serem votadas. A Nova Zelândia reconheceu esse direito no século XIX, em 1893, quando ainda era uma colônia britânica. Por outro lado, países como Suíça e Portugal só aceitaram em suas constituições o sufrágio universal na década de 1970.
Já na história republicana do Brasil, as mulheres conquistaram o direito ao voto no governo de Getúlio Vargas, em 1932. Nesse momento, além de votar, elas também puderam se candidatar. Aqui na Capitolina já tratamos um pouco desse assunto, logo na primeira edição.
Para dar o exemplo de outro país da América Latina, na Argentina o voto feminino foi aprovado em 1947 e tinha como uma das principais apoiadoras Evita Perón, que era primeira-dama na época. O problema é que muitas vezes Evita chamava as mulheres não para o debate público mas sim para trabalhos sociais e atividades do partido peronista que envolviam mulheres em geral aconteciam dentro de suas próprias casas. Simbolicamente, a mulher ainda estava muito presa ao espaço doméstico.
O lance da representação
Hoje em dia, as mulheres são mais da metade do eleitorado no país. Mas a representação delas é muito tímida.
É um grande feito que três dos sete principais candidatos à presidência nas eleições de 2014 sejam do sexo feminino. Ainda assim, em uma pesquisa feita em 2012 comparando 146 países, o Brasil ficou no 110º lugar, em ocupação de cargos políticos por mulheres. A legislação diz que 30% desses cargos devem ser reservados a elas, mas se virmos os dados da Câmara dos Deputados e do Senado (com respectivamente 9% e 10% de representação feminina) percebemos que os números são bem diferentes do que a lei prevê.
O problema é que mesmo depois de conseguirem o direito ao voto poucas mulheres concorrem a cargos no Legislativo e no Executivo. Talvez seja forçar um pouco a barra, mas em muitos lugares e em muitas mentes, o espaço que a mulher deveria ocupar na sociedade ainda é bem parecido com o plano da velha Atenas, em que fica restrita ao doméstico, não tendo muita voz ou muita possibilidade de voto e de veto em discussões públicas.
Um pouco mais
No filme Mary Poppins, de 1964, a personagem Winifred Banks entoa uma canção que se chama Irmã sufragista (no original, “Sister suffragette”) em que ela diz:
As filhas de nossas filhas nos adorarão
e cantarão agradecidas
“Muito bem, Irmã Sufragista!”
O que pouca gente sabe é que esse trecho faz referência a Emmeline Pankhurst, uma ativista britânica que defendia o voto das mulheres, ainda no começo do século XX.
As mulheres foram afastadas da democracia por muito tempo porque eram julgadas intelectualmente inferiores. É importante dizer, porém, que o movimento sufragista do século passado foi criticado algumas vezes por seu caráter elitista e por não incluir mulheres negras em suas associações. Uma figura importante que aliou os discursos de direito ao voto e de abolicionismo foi Sojourner Truth, ex-escrava estadunidense, que de improviso fez um discurso conhecido como “Eu não sou uma mulher?” defendendo o direito das mulheres e dos negros ao voto nos Estados Unidos.