Eu poderia ser hipster e dizer que já curtia o Uruguai antes de ser tendência. Não que o conhecesse pessoalmente, mas no curso de História, a disciplina de História da América Independente converteu-se facilmente em um dos meus xodós e, por isso, em 2010, li
A Trégua, de Mario Benedetti, que tem como cenário a cidade de Montevidéu, entre os anos de 1958 e 1959. O Uruguai já pertenceu a Brasil e a Argentina, é visivelmente um Estado que tem o laicismo como valor, já foi chamado de Suíça da América, foi o primeiro país a reconhecer o direito ao divórcio e um dos primeiros no mundo a aprovar o voto feminino ainda na década de 1930 (na Suíça, porém, esse direito só foi reconhecido na década de 1970). Foi um país com grande paz política costurada em acordos entre os dois principais partidos políticos – Blanco e Colorado – e, mesmo assim, na década de 1970, como os outros países do Cone Sul, passou por um sanguinolento regime militar (estima-se que 170 pessoas sigam desaparecidas). Foi o primeiro país a aceitar jogadores negros em sua seleção e também o primeiro a ganhar Copa do Mundo, além de ter sido o protagonista do traumático Maracanaço de 1950. Só que, apesar de ter Lugano e Forlán, a seleção atualmente periga não se classificar para a Copa do ano que vem; precisa ganhar da Jordânia na próxima semana. As recentes mudanças na legislação sobre o aborto e o início de uma discussão sobre a legalização da maconha no país não estão, portanto, dissociadas da experiência política aí.
Não apenas a trajetória do Uruguai é cheia de exceções, como a minha visita ao país também foi pouco habitual. Eu deveria começar a fazer umas listas esdrúxulas, como, por exemplo, as de semanas mais loucas da vida. Com certeza, o período que passei no Uruguai estaria entre as cinco primeiras colocações. A dificuldade, porém, de fazer uma lista assim é que eu precisava ter o poder de ver minha vida inteira e avaliar retrospectivamente todos os conjuntos de sete dias; projeto descartado por evidente inviabilidade.
De qualquer forma, entre todas as justificativas que eu poderia escolher para sintetizar minha estada aí, nada explicaria melhor minha ida ao país do que a busca por chivito e carinho. Fica a feliz lembrança de ter voltado depois de encontrados os dois.
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esse desenho é minha síntese gráfica da gente querida que encontrei em Montevidéu |
♫ Fernanda Takai – Diz que fui por aí
0 resposta para “realismo mágico”
Ah, Babi, só você mesma pra contar sua história com umas pitadas de História. Acho lindo que mesmo não conseguindo colocar em palavras tudo que aconteceu essa semana no Uruguai, você deixa esse retrato lindo do país 🙂
Cheguei a visitar o uruguay uma vez, mesmo tendo perdido o primeiro buque, (o taxista ao invés de me deixar no terminal, me deixou no porto, quem sabe ele achou que eu iria de container), mesmo sem ter trocado um peso argentino por uruguaio (porque um amigo disse que claaaaro que lá aceitavam), mesmo porque perdendo o buque a pessoa que eu nunca tinha visto antes e que talvez estivesse me esperando, talvez ela se cansasse de esperar e fosse embora. Como no final – para algumas pessoas- tudo sempre fica bem, tudo acabou bem. <3 beijo
Até hoje não sei como imaginar o Uruguai ou quando/se vou conhecer o país, mas uma coisa é certa: a América Latina como um todo é fascinante. Cada país parece ter um charme que só é encontrado nele e te puxa pra ele te fazendo nunca mais querer sair de lá apesar de todos os problemas evidentes que cada um tem.Senti falta das suas fotos lá. Pra quem nunca viajou ou prestou muita atenção nele, seria de encher os olhos.Pale September