Na rodoviária do Rio de Janeiro, com a passagem recém-comprada de volta para São Paulo, sentei-me no balcão de uma lanchonete, enquanto comia um pão-de-queijo. Um sorriso parecia morar dentro de mim. Um sorriso profundo, um sentimento de plenitude. Eu tinha ensaiado algumas viagens na minha cabeça desde o início do ano. Pensava em ir pra praia, pensava em ir pro meio do mato, ficar sozinha, em silêncio. Organizar as coisas mentais que na rotina da metrópole não dou conta. Troquei todas as opções por um final de semana no Rio. Na capital da corte. A princípio, achei uma troca arriscada. Na rodoviária do Rio de Janeiro o sorriso profundo me mostrava que fiz a melhor escolha possível. Que eu entrei em uma bolha de amor e que eu fui abraçada amplamente por gente muito amada. Eu perguntava, assim, meio de bobeira, como fui parar ali. Como fui parar nesse tempo-espaço em que eu só conseguia assobiar que lar é qualquer lugar em que eu esteja com vocês.
No ônibus, ninguém acenava para mim. Tampouco em São Paulo alguém tinha acenado quando parti para o fim-de-semana. Em São Paulo, a bem da verdade, ninguém se despedia de ninguém na rodoviária, à uma da manhã. O setor de embarque jazia em um silêncio desolador, com uma luz meio turva. Pensei “Lá vou eu, viajar sozinha de novo”. Lá fui eu, pegar o ônibus errado e ter que levar bronca da cobradora na minha primeira meia-hora de Rio de Janeiro e precisar ir a pé de Botafogo a Flamengo. Lá fui eu almoçar com amigos na livraria que conheci três anos atrás. Lá fui eu escutar de Carol que já nos conhecemos há doze anos e que, mesmo a sétima série C não sendo mais do lado da sétima série B, mesmo a gente não se encontrando no mezanino durante o recreio, conseguimos conversar sobre a vida como se não fizesse anos que perdemos o contato cotidiano. Lá fui eu lembrar que se não fosse por Carol eu talvez nunca teria me apaixonado por fotografia aos quinze, e talvez não conhecesse os amigos que me levavam para exposições com guardinhas mediadores de arte-educação. Lá fui eu conhecer pessoalmente
meninas que habitam minha vida há mais de um ano. Lá fui eu gritar no ouvido de
Alile a saudade que sinto e ganhar abraços de pessoas que há tanto eu esperava! E então eu fui e combinei com Brunna de voltar mais tarde para poder saber da vida dela, para poder colocá-la a par da minha. Se não fosse lá, não teria descoberto que
Camila é sim uma querida.
Da janela do ônibus, eu via três pessoas acenando para alguém que voltava comigo. E lembrei das férias no interior. De como eu ia com meus avós mas quase sempre queria ficar mais e minhas primas me levavam dias depois para a rodoviária e eu, adolescente, as via acenando freneticamente para mim, sem vergonha alguma. Eu quase podia enxergá-las ali, no Rio de Janeiro, acenando para mim e me mostrando que toda história tem um começo. E que uma coisa que nunca estive dessa vez foi sozinha.
♫ Kid Foguete – Mostly Blue
0 resposta para “and we should never reject love”
Encontrar pela primeira vez pessoalmente pessoas que conhecemos pela internet é realmente mágico. Cada vez que reencontro minhas amigas acho mágico. E o Rio de Janeiro é realmente um lugar encantador para coisas mágicas acontecerem *_*Amei seu relato e suas fotos!Beijo!
e ai toda vez que eu leio sobre desvirtualizações eu choro porque perdi a oportunidade de conhecer você aqui j_j me abraça
\”Um sorriso parecia morar dentro de mim.\” nossa, sei como é a sensação, e foi justamente quando visitei o Rio. lá tem uma aura mágica, sei lá. eu fui sozinha e encontrei uma amiga só, mas o suficiente pra ter aquela sensação de \”eu tenho uma amiga carioca\” posso voltar sempre que alguém vai me acolher! rs. e tuas fotos lindas, pra variar.
Adorei o texto. Alguém já te disse que você parece um tanto com a Anna Kendrick? http://naotomocaf.blogspot.com.br/
E nessas horas o pessoal ainda não entende como é agradável ter amigas de internet e mais ainda conhecê-las. Porque \”amiga de internet\” é só pra identificar de onde começou essa conexão absurda, mas nunca foi só isso, sempre foi mais que isso.http://www.paleseptember.com
Ai Babi, que coisa mais maravilhosa esse post! Fiquei emocionada aqui. E que alegria sem tamanho te conhecer. Pena que foi tão rápido. E GENTE, não acredito que aquela tattoo virou uma raposinha. Sensacional!