26 anos não cabem na mala

Este texto é sobre S04E07 de Mad Men

Álvares de Azevedo escreveu sobre ter vinte anos e um coração partido em forma de poema. Taylor Swift e Lily Allen apontaram para caminhos bem diferentes sobre os 22. Fábio Jr. tempos antes já tinha informado que não abria mão dos próprios planos nessa época de seus vinte-e-poucos. Só que no genérico vinte-e-poucos parece que um limbo começa a surgir depois dos 25. Seriam os 26 o esboço dos vinte-e-tantos, um “começo do fim”?

26 é a idade com que minha mãe casou, e com essa idade minha avó já tinha três de seus cinco filhos. Poucos dias antes do meu aniversário, pensei que sei lá o que devia esperar disso tudo. Eu – que ando de cabelos rosa e a mesma cara de tonta de sempre – pensei que possivelmente buscar na ficção modelos para minha vida atual não é tão absurdo considerando a distância que estou dos feitos das gerações passadas da família.

E, como na maior parte das vezes em que busco uma referência ficcional, acabei mais uma vez caindo em Peggy Olson. Se eu puder ao menos me explicar e dizer que nunca quis ser Peggy Olson mas que sempre acabei sendo-a sem querer, talvez tudo fique mais claro. A questão é que um dos episódios mais importantes de Mad Men, aquele chamado The Suitcase (ou, em tradução literal, A Mala), é justamente o aniversário de 26 anos da personagem de Elisabeth Moss.

Peggy deixa de comemorar seu aniversário por conta de uma concorrência nova; Don Drapper, seu chefe e mentor, é um escroto com ela, e o episódio se desenrola basicamente na relação entre essas duas pessoas, cujos arcos narrativos se complementam. Embora a série tenha personagens muito bem construídos e complexos, o protagonismo cai no colo sobretudo desses dois. Eles não são um casal, e parece que é justamente por esse caminho que suas trajetórias funcionam. Peggy deixa de comemorar o próprio aniversário com o namorado para trabalhar de madrugada. Mas, mais do que isso, ela chora, pela primeira vez, no banheiro da firma. Pra quem não sabe, Peggy quase chorou naquele mesmo lugar no segundo episódio da primeira temporada, mas, em uma triangulação de olhar, observa outras secretárias chorando e se dá conta de que não tem lágrimas para aquela situação. Aos 26 anos, quatro anos depois de começar sua carreira na Sterling Cooper, parece que algo mudou.

Me perguntei se era isso o que me esperava. Se passaria meu aniversário substituindo amor por trabalho, chorando escondida por pensar que não me levam a sério o bastante, desabafando com alguém ainda mais solitário do que eu. Mas nada disso aconteceu. Só esse tom melancólico, normal no envelhecer (mas que eu provavelmente devo sentir desde os onze anos de idade), essas roupas que parecem terem sido feitas para outra pessoa (porque devo estar virando outra pessoa), todo mundo ao redor parecendo fazer coisas mais maravilhosas (se juntando pra ver a luta de Muhammad Ali versus Sonny Liston, por exemplo). E uma estranha percepção de que certas alianças são agora mais fortes, de que eu devo estar mais madura, e de que no fundo só os que, assim como eu, não sabem quem são podem entender quem sou.

Esse texto saiu primeiro na newsletter No episódio anterior

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